Como diz Nádia Bossa (2000, p.12) "A identificação das causas dos problemas de aprendizagem escolar requer uma intervenção especializada".
Quando consideramos a criança devemos verificar suas condições físicas e emocionais, ou seja, sua possibilidade de aprender e se dispõe de recursos cognitivos apropriados para a fase em que se encontra.
Outra condição importante para que ocorra a aprendizagem é o desejo de aprender - a motivação permeada pelo afeto. As relações que a criança estabelece com o objeto de estudo é que a impulsionam para a construção do conhecimento.
A maior dificuldade dos educadores e dos psicopedagogos está em encontrar subsídios que indicam que a criança apresenta dificuldade de aprendizagem. Como faltam parâmetros concretos para fazer a identificação, esta acaba ocorrendo quando o aluno já repetiu um ou mais anos e provavelmente já tenha automatizado os erros.
Mesmo considerando as particularidades de cada caso, existem algumas generalizações: a maioria das crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam impulsividade, são desajeitadas, apresentam falhas na integração perceptiva, na memória, no pensamento e na linguagem.
Emília Ferreiro afirma categoricamente que tudo aquilo que se passa com a criança no início de sua escolaridade é decisivo para toda a sua vida escolar. A autora acrescenta também que a criança não precisa chegar na escola sabendo sobre alfabetização, é a escola que tem a obrigação social de alfabetizar. (FERREIRO, 1987 apud GOLBERT, 1996, p. 83; 89).
As queixas relatadas pelos professores com maior incidência sobre o aluno que não aprende são:
→ Falta de atenção;
→ Dificuldade na leitura e na escrita;
→ Dificuldade na matemática;
→ Dificuldade nos processos de pensamento;
→ Dificuldade nas atitudes de trabalho
Ao entrar na escola a criança se depara com conceitos e estruturas que até o momento não tinham lhe sido exigidos. Ao realizar as tarefas propostas podem surgir, por diversos motivos, a presença de alguma dificuldade que não implica necessariamente em um transtorno.
Essas dificuldades podem ser: problemas anteriores à vida escolar; problemas na proposta pedagógica; capacitação do professor; problemas familiares, emocionais ou déficits cognitivos, entre outros. Nenhum fator específico é a causa do problema, pode ter origens diversas ou ser uma combinação de vários fatores.
Quando tudo estiver de acordo e a criança só não aprende na escola devemos fazer um diagnóstico institucional para verificar quais problemas estão comprometendo o êxito do aluno. Muitas vezes o professor não percebe que a sua maneira de ensinar não é a mais apropriada para o aluno aprender. O professor preso a métodos ou à proposta pedagógica da escola, sem condições de se atualizar ou mesmo resistente às mudanças não percebe que está no caminho errado e acaba por não rever a sua prática tornando-a incoerente e fazendo assim, sofrer o aluno.
O transtorno ou distúrbio de aprendizagem é um conjunto de sinais ou sintomas que provocam uma série de perturbações no aprender da criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada. O transtorno corresponde a uma inabilidade específica em uma das áreas como a leitura, a escrita, a matemática, em indivíduos considerados capazes intelectualmente.
Os manuais CID-10 e DSM-IV apresentam três tipos básicos de transtornos específicos: o Transtorno da Leitura; o Transtorno da Escrita e o Transtorno da Matemática.
→ Transtorno da Leitura - DISLEXIA: é uma dificuldade específica em compreender as palavras escritas.
→ Transtorno da Escrita - DISGRAFIA e/ou DISORTOGRAFIA: é um transtorno de ortografia e caligrafia, geralmente combinado à dificuldade em compor textos escritos por apresentar erros de gramática, pontuação, má organização dos parágrafos, múltiplos erros ortográficos ou fraca caligrafia.
→ Transtorno da Matemática - DISCALCULIA: a criança apresenta uma inabilidade em adquirir conceitos matemáticos e a utilizá-los na vida diária.
O diagnóstico precoce do distúrbio de aprendizagem é fundamental para a superação desta dificuldade. Desta forma se verifica a área mais comprometida e se encaminha para a abordagem terapêutica mais adequada.
Segundo Pamplona (1997, p. 30; 31) baseando-se nas pesquisas as causas apontadas como responsáveis pelas dificuldades escolares e pelos altos índices de evasão e reprovação escolar são:
- falta de estimulação adequada nos pré-requisitos necessários à alfabetização;
- métodos de ensino inadequados;
- problemas emocionais;
- falta de maturidade para iniciar o processo de alfabetização
- dislexia
DISLEXIA
A Dislexia apresenta-se nos momentos iniciais de aprendizagem da leitura e da escrita.
É uma dificuldade específica nos processamentos da linguagem para reconhecer, reproduzir, identificar, associar e ordenar os sons e as formas das letras, organizando-as corretamente.
A Dislexia não é uma patologia, ou seja, não é uma doença.
CAUSAS: Genéticas, Neurobiológicas.
A história familiar é um dos fatores de risco mais importantes: 23 a 65% das crianças disléxicas têm um parente com dislexia. (Scar Boroug, 1990).
Entre irmãos a taxa é de 40%.
Entre pais e filhos, de 27 a 49%.
Cerca de 20% das crianças do mundo são disléxicas.
A criança disléxica tende a desenvolver depressão (pela pressão que sofre); ansiedade; baixa auto-estima e falta de atenção.
ALGUNS COMPORTAMENTOS E CARACTERÍSTICAS:
· Imaturidade;
· Desempenho inconstante;
· Demora na aquisição da leitura e da escrita;
· Lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas tarefas orais;
· Dificuldade com os sons das palavras e, conseqüentemente com a soletração;
· Escrita incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas;
· Dificuldade em associar o som ao símbolo;
· Dificuldade com a rima e a aliteração;
· Discrepância entre as realizações acadêmicas, as habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo;
· Dificuldade em associações;
· Dificuldade para organização seqüencial;
· Dificuldade em nomear objetos, tarefas...;
· Dificuldade com a organização temporal (hora), espaço (antes e depois) e direção (direita e esquerda);
· Dificuldade em memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações ou efetuar alguma tarefa que sobrecarregue a memória imediata;
· Dificuldade em organizar as suas tarefas;
· Dificuldade com cálculos mentais;
· Desconforto ao tomar notas e/ou relutância para escrever;
· Persistência no mesmo erro, embora conte com apoio do profissional;
· Fraco desenvolvimento da atenção;
· Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem;
· Atraso no desenvolvimento visual;
· Dificuldade em aprender rimas e canções;
· Falta de coordenação motora fina e ampla;
· Dificuldades com quebra-cabeça;
· Falta de interesse por livros e impressos;
· Dificuldade em aprender uma segunda língua
COMO TRABALHAR COM O DISLÉXICO:
→ Capacitar os professores para trabalhar com a diversidade e possibilitar a inclusão;
→ Estímulos são fundamentais para se elevar a auto-estima, levá-la a superação das dificuldades e exige muita determinação pessoal;
→ Não tem cura. O tratamento visa potencializar as capacidades e minimizar as dificuldades;
→ A estimulação multisensorial é muito utilizada;
→ O ambiente deve ser facilitador;
→ A vocalização ou oralização é uma forma de compensar a dificuldade;
→ Desenvolver a consciência fonológica tem apresentado excelentes resultados;
→ Antes de introduzir textos complexos, verificar se o aluno já entende os menos complexos;
→ O professor deve estar atento aos erros e não corrigir pelo aluno. Deve sentar, explicar novamente, chamar para sentar mais perto. Sublinhar os erros e fazer reestruturar o texto;
→ Se o Disléxico for bem atendido com certeza terá progressos;
→ A repetência de alunos que já reprovaram diversas vezes deve ser vista com bom senso pelos educadores. Cada caso é um caso;
→ Quanto mais cedo se fizer o diagnóstico melhor será o tratamento.
Para um atendimento mais eficaz devemos verificar o tipo de dislexia que o aluno apresenta:
· Dislexia Visual: deficiência na percepção visual e na coordenação visomotora – desenvolver a leitura do todo para as mínimas partes;
· Dislexia Auditiva: deficiência na percepção auditiva e na memória auditiva – desenvolver a leitura fonológica – das partes para o todo – usada para a leitura de palavras novas;
· Dislexia Mista ou Integrada: é a mais comum – uma integração das duas.
Colaboração: Andréia Santos da Costa Ferrão andreiapsicopedagoga@hotmail.com
Pedagoga – Educação Especial
Psicopedagoga Clínico-Institucional
Professora da Sala de Multimeios da EBM João Alfredo Rohr
www.aprenderemconstrucao.blogspot.com
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SITES:
www.aprenderemconstrucao.blogspot.com
www.dislexia.org.br
www.psicopedagogiabrasil.com.br
www.abppsc.com.br
www.psicopedagogia.com.br
3 comentários:
Parabéns pelo trabalho.
Isso que vc relata em seu blog esta muito presente em nossa realidade, e muitos pais e professores não sabem o que fazer diante dessa dificuldade.
Estamos discutindo essas relações e dificuldade de aprendizagem em sala de aula, sou acadêmica do 7º período de pedagogia.Élida Patricia.
ah! também estou desenvolvendo um blog, espero sua visita...
Brincando também se aprende
bjuss
Oi Andréia, eu sou a Ingrid, fonoaudióloga clínica e educacional.
Adorei seu trabalho!
Parabéns!
Estava procurando materiais sobre o Autor Jaime Luiz Zorzi, fonoaudiólogo e achei seu blogger.
fonoingrid@gmail.com
Beijos
Olá parceira!!!
Adorei seu trabalho....
Meu nome é Daniele Puccio, sou professora de fund.I e professora em pós graduação psicopedagogia clínica e intitucional.
Então se desejar podemos trocar algumas figurinhas...
Parabéns
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