PLURIDISCIPLINARIDADE: existe sinal de cooperação entre as disciplinas, que ocorrem de forma intuitiva. O tema é único, mas não é unificador – não é demonstrada aos alunos a relação existente entre as diferentes áreas do conhecimento, as disciplinas continuam a trabalhar de forma compartimentada.
INTERDISCIPLINARIDADE: duas ou mais disciplinas relacionam seus conteúdos para aprofundar o conhecimento – há uma integração – nesse caso é necessário uma cooordenação, que integre os objetivos, atividades, procedimentos, planejamentos e propicie intercâmbio, a troca, o diálogo, etc.
TRANSDISCIPLINARIDADE: é uma abordagem mais complexa em que a divisão por disciplinas, hoje implantada nas escolas, deixa de existir. Essa prática somente será viável quando não houver mais a fragmentação do conhecimento.
A interdisciplinaridade visa garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não seria suficiente, seria preciso, como sustenta Ivani Fazenda (1979), uma atividade e postura interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade, diante do conhecimento.
Devemos pensar em um ensino com qualidade e não com quantidade de conteúdos.
O trabalho do professor deve ser mais flexível, mais autônomo, menos preso na condição de cumprimento dos conteúdos propostos. O professor atuará mediando, facilitando o acesso aos materiais de pesquisa, buscando o foco de interesse, promovendo discussões, indagando mais do que respondendo. Preocupando-se mais com o processo e não com o produto, garantindo dessa forma o sucesso do processo ensino-aprendizagem.
Só é possível pensar em interdisciplinaridade quando há comprometimento da equipe, estabelecendo-se divisões de tarefas e equidade nas informações tanto de ordem procedimentais quanto de resultados. Estamos diante de uma nova postura, de uma mudança de atitude em busca da unidade de pensamento.
Na educação ela teve um desenvolvimento particular. Nos projetos educacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns princípios, entre eles:
1. Na noção de tempo: o aluno não tem tempo certo para aprender. Não existe data marcada para aprender. Ele aprende toda hora e não apenas na sala de aula. (Emilia Ferreiro);
2. Na crença de que o indivíduo aprende. Então é preciso ensinar a aprender, a estudar, etc., ao indivíduo e não a um coletivo amorfo. Portanto, uma relação direta e pessoal com a aquisição do saber;
3. Embora apreendido individualmente, o conhecimento é uma totalidade. O todo é formado pelas partes, mas não é apenas a soma das partes. É maior que as partes;
4. A criança, o jovem e o adulto aprendem quando tem um projeto de vida, e o conteúdo do ensino é significativo (Piaget) para eles no interior desse projeto. Aprendemos quando nos envolvemos com emoção e razão no processo de reprodução e criação do conhecimento;
5. A interdisciplinaridade é uma forma de pensar. Piaget (1972:144) sustentava que a interdisciplinaridade é uma forma de se chegar a transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas – onde se torna impossível distinguir onde começa e onde termina uma disciplina.
A metodologia do trabalho interdisciplinar supõe atitude e método que implica:
- integração de conteúdos;
- Passar de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento;
- Superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa, a partir da contribuição das diversas ciências;
- Ensino-aprendizagem centrado numa visão de que aprendemos ao longo de toda a vida (educação permanente).
A ação pedagógica através da interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a experimentação da vivência de uma realidade global, que se insere nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na teoria positivista era compartimentalizada e fragmentada. Articular saber, conhecimento, vivência, escola, comunidade, meio-ambiente, etc., tornou-se últimos anos, o objetivo da interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um trabalho coletivo e solidário na organização da escola.
Um projeto de educação interdisciplinar deverá ser marcado por uma visão geral da Educação, num sentido progressista e libertador. As disciplinas não são fatias do conhecimento, mas a realização da unidade do saber nas particularidades de cada uma.
“Não se trata de propor a eliminação de disciplinas, mas sim da criação de movimentos que propiciem o estabelecimento de relações entre as mesmas, a ação num trabalho cooperativo e reflexivo, é re-descoberta e construção coletiva de conhecimentos (...)” (Fazenda, 1996).
A interdisciplinaridade deve ser entendida como conceito correlato ao de autonomia intelectual e moral. Nesse sentido a interdisciplinaridade serve-se mais do construtivismo do que serve a ele. O construtivismo é uma teoria de aprendizagem que entende o conhecimento como fruto da interação do sujeito com o meio. Nessa teoria o papel do sujeito é primordial na construção do conhecimento. Portanto, o construtivismo tem tudo a ver com a interdisciplinaridade.
Para uma prática da educação libertadora, o princípio dialético é fundamental para a compreensão do “homem como ser histórico molhado de seu tempo” (Paulo Freire). A possibilidade de integração entre as ciências, atitude e método (Ivani Fazenda) por parte dos educadores, permite observar outras categorias de análise que se fundam em diferentes paradigmas. Tais paradigmas contribuem para a construção do conhecimento por um educando que pratica, reflete e se sente parte da construção do conhecimento, entendendo que cada processo educativo só se conclui quando o mesmo constitui instrumento de compreensão e atuação.
O educador deve possibilitar o diálogo constante entre as disciplinas, possibilitando ao educando uma visão de conjunto do tema abordado. O saber deve ser democratizado, diferenciado, atendendo às exigências dos atuais Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
A educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais – os pilares do conhecimento:
- APRENDER A CONHECER: aprender a aprender. Ter domínio do conhecimento – verificar o que realmente importa. O conhecimento não acaba e torna-se cada vez mais inútil tentarmos ensinar tudo. Os avanços no conhecimento são conseguidos nos pontos de interseção das diversas áreas disciplinares. Devemos exercitar nos alunos a atenção, a memória e o pensamento.
- APRENDER A FAZER: consiste na formação profissional. Ensinar o aluno a pôr em prática os seus conhecimentos e a como adaptá-la ao trabalho futuro – a aprendizagem deve evoluir e não mais ser considerada como simples transmissão de práticas formativas: competência para...; qualificação para...
Qualidades como capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerir e resolver conflitos, tornam-se cada vez mais importantes. A qualificação deve ser social e não profissional.
- APRENDER A VIVER JUNTOS, APRENDER A VIVER COM OS OUTROS: conceber uma educação capaz de evitar conflitos ou de resolve-los de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua espiritualidade. Pertencemos a uma sociedade competitiva em que o sucesso individual prevalece. Devemos trabalhar em equipe em busca de objetivos e projetos comuns, dando lugar a cooperação, a discussão, ao confronto através do diálogo e troca de argumentos.
A educação deve ajudar o indivíduo a descobrir-se a si mesmo, para se colocar no lugar dos outros e compreender as suas reações.
Os jovens deveriam reservar um tempo para se envolver em projetos de cooperação e participação de atividades sociais: atividades desportivas e culturais, ajuda aos menos favorecidos, ações humanitárias...
- APRENDER A SER: a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa que deverá elaborar um pensamento autônomo e crítico para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmos, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.
Assim sendo, a interdisciplinaridade se realiza como uma forma de ver e sentir o mundo. De estar no mundo. É necessário um planejamento conjunto que possibilite a eleição de um eixo integrador, que pode ser um objeto de conhecimento, um projeto de intervenção e, principalmente, o desenvolvimento da realidade sob uma ótica global e complexa. Se formos capazes de perceber, de entender as múltiplas implicações que se realizam, ao analisar um acontecimento, um aspecto da natureza, isto é, o fenômeno dimensão social, natural ou cultural... Somos capazes de entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações, em sua complexidade.
Andréia Ferrão
2 comentários:
Olá Andréia
Parabéns pelo blog. Sou Profª de matemática e gosto muito da área de pedagogia. Sou coordenadora do Gestar I e II e do Pró-letramento em Cabo Frio- RJ
Mantenho dois blogs profissionais:
gestar2cabofrio.blogspot.com e bethematica.blogspot.com, esse é pessoal.
Um abraço
Profª Elizabethe Gomes
Olá pessoal,
Adorei o blog e que quero que vocês me ajudem.
Sempre fui apaixonada pelo tema AUTISMO e esse ano entraram na escola onde trabalho dois alunos autista, Lucas e Thiago, ambos fofos e eles despertaram em mim uma vontade trabalhar em prol dessa causa. Quero desenvolver um projeto para trabalhar a concientização do autismo e queria começar trabalhando a interdisciplinaridade, mas não sei por onde começar.
Como vocês acham que eu conseguiria trabalhar o autismo em várias disciplinas?
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